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quarta-feira, 9 de setembro de 2015

Nova realidade demográfica muda perfil da família no CE

                           
Aos 93 anos, Aída Oliveira Moreira tem sete filhos, 18 netos e dez bisnetos. Esse formato, no entanto, em nada se parece com o novo perfil da família brasileira, que se configura por uma redução do número de filhos - inferior a dois (1,76). Tem ainda um expressivo número de pessoas que não querem filhos. Além disso, a mulher contemporânea estuda e trabalha, e homens e mulheres da classe média casam mais tarde, reduzindo o período de fertilidade.



Essas mudanças no perfil demográfico da população estão previstas em projeções do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). O órgão alerta que, a partir de 2043, vão morrer mais pessoas do que nascer. Significa que, a partir daquele ano, a população brasileira deverá começar a diminuir. Neste ano, a estimativa é de 204 milhões de pessoas, saltando para 212 milhões, em 2020, e 228 milhões, em 2040, começando a decrescer a partir de 2044.
O IBGE projeta ainda que, a partir de 2029, o Brasil terá mais pessoas de 60 anos ou mais de idade (40,3 milhões) do que de 0 a 14 anos (39,7 milhões). No Ceará, apesar de o Instituto só ter projeções até 2030, o Estado segue a mesma tendência nacional. De 2000 a 2030, observa-se uma redução no número de nascimentos. Foram 180.124, em 2000, caindo para 146.995, em 2010, 127.055, em 2020, e 113.487, em 2030 - queda de 37% em 30 anos. A taxa de fecundidade também apresentou queda. Era de 2,84, em 2000, diminuindo para 1,55, em 2030 - redução de 45,42%.
Ajuda
Mesmo tendo passado por dois casamentos, Neise Gurgel Moreira, 60, que já trabalhou como atendente de enfermagem e hoje se dedica exclusivamente a cuidar da mãe, o que faz com muita alegria, não teve filhos. Não que não quisesse, mas porque não pôde. Ela observa que as pessoas não querem mais ter filhos. "Lá em casa, éramos sete, mas tinha muita gente para ajudar. Hoje, tem que colocar em creche, é caro, e os pais não sabem com quem a criança fica. No meu tempo, a gente ficava em casa mesmo, não tinha esse negócio de creche", afirma.
Para ela, a nova configuração do núcleo familiar mudou para pior. A convivência da família ficou comprometida e o desejo das mulheres de serem mães, também. Se pudesse, acrescenta, teria tido uns quatro, cinco filhos. "Eu acho bonito família grande", frisa. No entanto, na visão dela, a população está envelhecendo não apenas porque as famílias querem ter poucos filhos, mas por causa da violência, que mata a juventude. "A droga leva a outras coisas, como o mundo o crime, e tem levado os nossos jovens. É só o que a gente vê na televisão: morreu, mataram. Daqui a uns dez anos, vão ficar só os velhos", adverte.
Entre os vários fatores que contribuem para essa mudança no perfil demográfico da população, José Borzacchiello da Silva, pós-doutor em Geografia Humana e professor da Universidade Federal do Ceará (UFC), cita o acelerado processo de urbanização, que impõe novas necessidades e reduz o tempo livre - aquele anteriormente voltado aos cuidados com a família. Porém, enquanto nas camadas médias houve redução do número de filhos, ressalta que entre os segmentos de menor rendimento as famílias são compostas por um maior número de membros.
Respeito
Em termos de gestão do Estado, diz que essa alteração na pirâmide etária reduz o número de contribuintes e amplia a quantidade de aposentados e dependentes de serviços de saúde especializados e caros. Enquanto isso, o modo de pensar e ver o mundo dos gestores, acrescenta o especialista, ainda é de um País dominado por uma população jovem. "Não temos clareza do conceito de idoso como um cidadão de direitos. Ele é visto mais como um 'estorvo', alguém que atrapalha. O idoso merece uma vida saudável e alegre, com possibilidade de participar de atividades de toda ordem. O idoso merece respeito".
Alexandre Alcântara, promotor de Justiça do Núcleo do Idoso do Ministério Público do Estado (MPE), ressalta que os principais desafios são efetivar a Lei Nº 8.842, de janeiro de 1994, que trata da Política Nacional do Idoso, e o Estatuto do Idoso, criado em outubro de 2003. Ele comenta que o Brasil vem sendo alertado pela Organização das Nações Unidas (ONU) sobre os efeitos do envelhecimento mundial da população, até produziu uma legislação, mas maior parte das políticas públicas não foram efetivadas. "Os nossos legisladores são quase poetas, mas na hora de efetivar, de ver quem vai pagar a conta", opina.

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