São Paulo. A
escalada do dólar tem sido firme e constante. Nos 12 meses encerrados na
sexta-feira, a desvalorização do real em relação à moeda americana chegou a
71,57%. Uma perda maior para igual período só ocorreu em março de 1999, segundo
cálculos da consultoria Tendências. No ano em que o País abandonou a âncora
cambial, o real desvalorizou 91,6%.
A
mudança de patamar do câmbio está provocando uma desorganização momentânea da
economia e impactando diretamente o cotidiano das pessoas e das empresas.
Espera-se que a desvalorização do real seja um caminho para o Brasil sair da
atual recessão, por meio do impulso nas exportações e pela consequente melhora
do setor externo. "Quanto mais depreciado o câmbio, mais competitivos vão
estar os produtos tanto para a exportação como domesticamente", diz Bruno
Lavieri, economista da Tendências.
Um
sinal de melhora das exportações já está evidente na rentabilidade das vendas
externas na combalida indústria de transformação. Os dados da Fundação Centro
de Estudos do Comércio Exterior (Funcex) mostram um avanço da rentabilidade de
12,6% em julho na comparação com o mesmo mês do ano passado. Na agricultura e
pecuária, o aumento foi mais modesto, 0,9%, num sinal de que a alta do dólar
está compensando a forte queda das commodities.
"O
efeito do câmbio na rentabilidade é instantâneo, mas na quantidade exportada
demora mais para aparecer", afirma Daiane Santos, economista da Funcex.
"O câmbio não é um fator de competitividade. O ideal é reduzir o custo do
produto para torná-lo mais competitivo, mas a desvalorização do real está
proporcionando um ganho de competitividade".
Mais caro
Para
quem importa, porém, a conta começa a ficar mais cara. Dono de uma importadora
de brinquedos, material escolar e artigos de bazar, Ronaldo Funtowicz, de 57
anos, sentiu o peso do câmbio em seu negócio. "À medida que aumenta o
dólar, aumenta o custo. Somos obrigados, para manter a demanda, a sacrificar a
margem, para passar por esse período", afirma. Os preços subiram em média
de 20% a 25%, e os estoques estão mais altos do que em 2014.
A
desvalorização do real também desestimulou quem pretendia encher as malas com
produtos de outlets numa viagem ao exterior. "Quando o dólar estava R$
3,35, as pessoas não se assustavam. Quando passou de R$ 3,60, começaram a fazer
contas", afirma Leonel Rossi Junior, vice-presidente de Relações
Internacionais da Associação Brasileira de Agentes de Viagens.
Viagens
Segundo
a associação, a demanda para viagens no exterior caiu 10% neste ano. "A
procura só não foi menor porque houve uma queda significativa no preço das
passagens", acrescenta. Ele espera que, no segundo semestre, haja mais
demanda por destinos domésticos - de 5% a 7% a mais do que em 2014.
O dólar
turismo em espécie está na casa dos R$ 4. Já no cartão pré-pago, com imposto
maior, ultrapassou R$ 4,20. Muitos têm optado por mudar o destino das férias.
Com o casamento marcado para dezembro, Cristina Mendonça e Filipe Cunha
trocaram a lua de mel na Ilha Bonaire, no Caribe, por Maraú, na Bahia.
"Não ficou tão mais barato, mas foi para não termos surpresas nos gastos.
É mais fácil saber o quanto se gasta", diz ele.
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