"Os momentos de crise
suscitam um redobrar de vida nos homens". A frase do escritor François
Chateaubriand parece caracterizar a força do agricultor familiar cearense.
Mesmo depois de quatro anos de seca, dos produtos da agropecuária, é ele quem
garante 90% de tudo que é consumido no Estado.
Na
Central de Abastecimento do Ceará (Ceasa), por exemplo, é fácil constatar o
fato. Ali, antes do período tão extenso de estiagem, 53% de tudo comercializado
era produzido no Estado. Foi graças ao setor que a queda não foi tão grande.
"Hoje, 49% é daqui, mas isso devemos à agricultura familiar. Do contrário,
a redução poderia ser bem maior, e teríamos que importar até simples
hortaliças", aponta o presidente da Central de Abastecimento, Reginaldo
Moreira.
Além de
segurar o emprego, produtos básicos que compõem a mesa do cearense, como
feijão, arroz, milho, mandioca, banana, cajá, seriguela, mamão, hortaliças e
pequenos animais como galinha caipira, suínos e carneiros e ovelhas, são do
pequeno agricultor. Eles somam 350 mil famílias ou 1,3 milhão de pessoas e
estão em 341 mil estabelecimentos rurais do Estado de um total de 381 mil. O
restante, 39,5 mil são grandes produtores.
"Os
familiares são os que mais fortalecem o desenvolvimento local, principalmente
na zona rural, pois distribuem melhor a renda, são responsáveis por uma parte
significativa da produção estadual, respeitam mais o meio ambiente e,
principalmente, potencializam a economia nos municípios onde vivem",
destaca o coordenador da Agricultura Familiar da Secretaria de Desenvolvimento
Agrário do Ceará (DAS), Itamar Lemos.
A força
também vem do cooperativismo rural que se expande no setor. A Cooperativa
Agroecológica da Agricultura Familiar do Caminho de Assis (Cooperfam) é uma
delas. Atualmente, 278 cooperados trabalham juntos para, cada vez mais,
melhorar o meio rural onde vivem. "Temos nosso auto sustento e o restante
comercializamos na Ceasa", comenta Airton Jonas.
Feijão,
milho, banana, seriguela, tamarindo são os itens mais procurados. "Para
conviver com a seca, temos que nos esforçar e se um produto não dá, investimos
em outros e assim por diante", conta. A experiência cearense e brasileira
no fortalecimento da agricultura familiar, na promoção da segurança alimentar e
no combate à fome suscitou o interesse do governo da Venezuela de conhecer as
políticas públicas adotadas no País.
Nos
dias 24 e 25 de agosto, o ministro do Desenvolvimento Agrário, Patrus Ananias,
esteve em Caracas, capital do País sul americano, para apresentar as principais
ações da pasta - que têm como foco a democratização do acesso à terra, a
inclusão produtiva e a ampliação de renda da agricultura familiar.
Entre
os investimentos para a garantia da produção, aponta a SDA, famílias da zona
rural do Ceará recebem um projeto inovador para aproveitar ao máximo o
potencial da água em épocas de seca. São implantados em 17 municípios
Projetos-Pilotos de Reúso de Água Cinza, com o objetivo de tratar a água
utilizada no banho, na lavagem de louça e roupa, para servir à produção de
alimentos. O governo do Estado enviou à Assembleia Legislativa mensagens que
autorizam a liberação dos recursos para a ação.
A ação
faz parte do projeto São José III, responsável pela implantação de sistemas de
abastecimento de água em comunidades da zona rural. As ações têm investimento
total de R$ 1,8 milhão e devem beneficiar 85 famílias - cinco em cada
município.
Além
dessa iniciativa, indica Lemos, outra ação do São José III é a implantação de
47 projetos produtivos em agricultura familiar, apicultura, ovino
caprinocultura e piscicultura, que vão beneficiar 1.448 famílias de 38
municípios. Vão permitir, por exemplo, a construção de novos espaços de
trabalho e a compra de máquinas que ajudem nos negócios. "A ideia é que as
famílias produzam mais e melhor".
Semiárido
Para o
presidente da Federação dos Trabalhadores na Agricultura do Ceará (Fetraece),
Luiz Carlos Ribeiro, os projetos se somam a outros que contribuem para a
convivência com o Semiárido e com a profissionalização da agricultura familiar.
Segundo ele, muitas famílias têm consciência dos potenciais econômicos do
setor, mas precisam de mais incentivos para alcançá-los. O projeto São José III
teve inicio em dezembro de 2012 e termina em outubro de 2016. A primeira fase
tem investimentos de US$ 150 milhões, sendo US$ 100 milhões financiados pelo
Banco Mundial e US$ 50 milhões de contrapartida do governo do estado.
Os
valores destinados às ações de reúso de água e de incentivo à agricultura
familiar serão repassados a entidades, como cooperativas e associações
selecionadas em chamadas públicas, responsáveis pela execução dos projetos.
Mais informações:
Ceasa:
Av. Dr. Mendel Steinbruch, s/n, Pajuçara, Maracanaú/CE
(85)
3299.1200/(85) 3299.1211
SDA:
Av. Bezerra de Menezes, 1820, São Gerardo - 3101.8002
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