Limoeiro do Norte. Pequenos produtores que cultivam banana no Perímetro Irrigado Jaguaribe
Apodi, neste município, estão temerosos com a chegada da época dos ventos
fortes, que têm início ao final do segundo semestre. Isso porque o fenômeno tem
causado a derrubada de centenas de hectares de bananais do tipo pacovan. A
alternativa seria mudar a produção, mas a falta de recursos e a dificuldade de
acesso ao crédito são impedimentos para estes irrigantes.
O produtor Raimundo Nonato de Freitas, 44 anos, irriga banana na
chapada há oito anos e, no dia 18 fevereiro deste ano, por volta das 16h30,
amargou a perda total de sua produção de banana pacovan em seus 12 hectares
cultivados. Os ventos atingiram a área a uma velocidade de 65km/h. Esse
fenômeno ocasionou uma das maiores perdas de banana pacovan na região do
Distrito Irrigado Jaguaribe Apodi (DIJA) nos últimos anos, afetando uma área de
500 hectares e prejudicando 161 produtores, em sua maioria pequenos e médios.
Os prejuízos ficaram em torno dos 22 milhões.
Ainda de acordo com o produtor, os fenômenos são frequentes,
sendo registrados todos os anos. Alguns mais intensos, outros menos. Porém esse
ano a situação financeira e a alta no preço da água em conjunto com a energia
(que são bombeadas do leito do rio Jaguaribe para o perímetro) estão
impossibilitando a mudança no tipo de cultura,
"Quando eu perdi os lotes eu fui obrigado a recuperar
todos, porque não tive condições de mudar pra a banana prata. Aqui todo mundo
sabe que é necessário isso, porque é uma banana mais resistente aos ventos.
Mas, com os preços que pago por mês e os prejuízos que tive, fica
difícil", lamentou o produtor. Os lotes que ele e dois funcionários cuidam
são alugados. O aluguel da terra custa R$ 3 mil mensais.
Porte alto
Para o consultor em bananicultura, Ítalo Arrais, o risco com a
banana pacovan sempre vai existir devido ao seu porte alto, principalmente na
região do Baixo Jaguaribe que recebe constantemente ventos fortes, geralmente
no segundo semestre. Ainda segundo ele, a adoção plantas de porte médio ou
baixo já vem acontecendo em Baraúnas e em Limoeiro do Norte. "Como
alternativa, temos os tipos Prata Catarina e Prata Anã, bem aceita pelos
consumidores", afirmou.
Outro produtor da área, Colodoaldo Elias de Sousa, 64 anos,
atento aos períodos da catástrofe, começou a plantar fios de banana prata
catarina em um hectare e meio, de um total de oito hectares. A iniciativa
começou aos poucos, com recursos próprios, diante das frequentes derrubadas em
seus bananais. O tipo vem sendo apontado por técnicos agrícolas que atuam na
região como o mais adequado para a Chapada, por possuir tronco mais grosso e
ser mais baixo, resistindo aos fortes ventos.
"Em janeiro eu perdi todos os meus lotes de pacovan que eu
tinha, mas a prata ficou. Então fui pegando os fios e plantando em outra área,
mas também recuperei a que tinha derrubado. Gastei muito pra recuperar os lotes
todos de novo, se vier outra derrubada dessa, não sei se vai dar pra continuar,
é muito caro".
De acordo com o Presidente da Federação das Associações do
Perímetro Irrigado Jaguaribe Apodi (Fapija), Raimundo Cesar dos Santos, os
pequenos produtores são os que mais têm sofrido com as perdas, devido aos
investimentos que precisam ser feitos, e muitos estão em terras com dívidas
junto aos bancos. "Infelizmente, está havendo essa dificuldade do produtor
ter acesso ao crédito para financiar a mudança desse tipo de banana que é
necessário", informou.
Para ele, a Lei nº 12.844, conhecida como Lei Eunício Oliveira,
ainda não beneficiou todos os pequenos produtores, sendo necessária uma
compreensão maior dos bancos com os devedores para renegociar as dívidas.
Financiamento
A assessoria do BNB informou que, segundo a Lei 12.844, os
produtores que contrataram financiamento até 30.12.2006, no valor de até R$
100.000,00, poderão liquidar suas dívidas com até 85% de descontos, se estiverem
no Semiárido.
Explica que, se o cliente contratou financiamento até
30.12.2006, no valor de até R$ 200.000,00, o Banco pode emprestar o valor
recalculado do financiamento para liquidação da operação anterior, com prazos
de até 10 anos para pagar com até 3 anos de carência. "Se os produtores se
enquadram ou não na lei, é uma questão de verificar caso a caso".
Enquete
Qual a dificuldade para
plantar?
"Falta mais apoio. Os curtos para se irrigar estão muito
altos e o nosso produto tem ficado barato. Se houve mais perdas como a
registrada no começo deste ano, não sei como vai ficar a nossa situação"
Raimundo Nonato de
Freitas
Produtor
Produtor
"Há uma necessidade muito grande de se mudar o tipo da
banana que estamos plantando, da pacovan para a prata catarina, mas os pequenos
irrigantes não têm conseguido recursos para processar essa mudança"
Raimundo César dos Santos
Presidente da Fapija
Raimundo César dos Santos
Presidente da Fapija
"Perdi toda área que havia plantado de banana pacovan e
usei umas economias pra recuperar a produção. Tentei aumentar um lote que tinha
de banana prata para tentar ir segurando até a coisa melhorar"
Clodoaldo Elias de Sousa
Produtor
Clodoaldo Elias de Sousa
Produtor
Mais informações:
Federação das Associações
do Perímetro Irrigado Jaguaribe Apodi (FAPIJA)
Rodovia LN 01, km 12,
Limoeiro do Norte
(88) 3423 2991
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