Juazeiro do Norte. Encontrar um único médico em algumas
cidades do interior tem sido uma tarefa difícil para muitos, isto porque, em 27
municípios cearenses, existe apenas um profissional registrado no Conselho
Regional de Medicina do Estado do Ceará (Cremec). A entidade ressalta,
entretanto, que em alguns casos isolados, profissionais residem em outras cidades
e se deslocam para realizar atendimento em municípios vizinhos.
A má
distribuição de médicos entre as pequenas e grandes cidades têm sido um
desafio. O maior obstáculo são as condições de trabalho nestes locais. Com a
falta de infraestrutura, os médicos se sentem inseguros e, por conta disso,
optam por cidades "com maior porte", conforme ponderou a médica Luana
Barbosa, recém-formada.
"A
rede de saúde em muitos municípios, principalmente nas cidades pequenas, são
mal estruturadas e não disponibilizam de mínimas condições para o exercício
adequado dos profissionais dessa área".
Em
relação aos médicos, "além da baixa remuneração, se comparada aos grandes
centros, falta material como instrumentos básicos para a avaliação inicial do
paciente, medicamentos essenciais para controle de comorbidades usuais, como a
hipertensão e diabetes, dentre outras carências. Em sumo, a estrutura é muito
precária e acabamos buscando condições melhores de trabalho", explica.
Desta
forma, as cidades mais estruturadas tem atraído novos profissionais,
polarizando o atendimento, como é o caso de Juazeiro do Norte. Com mais de 250
mil habitantes, a maior cidade do Cariri, e a terceira maior do Estado, tem
números semelhantes à de países da Europa. Segundo a entidade, 584 médicos
estão registrados no Cremec, o que significa uma média de 4,2 médicos para cada
mil juazeirenses. Na Espanha e Portugal, por exemplo, a média é de quatro
profissionais por mil habitantes.
Segundo
o último levantamento do Conselho Federal de Medicina (CFM), feito em 2012, no Ceará,
existiam 9.953 médicos registrados no CFM, uma média de 1,16 médicos para cada
mil cearenses. Em todo o País eram 388.015 médicos, cerca de 1,8 por mil
habitantes.
Luana
Barbosa lembra ainda que a falta de residência médica em muitos centros também contribui
para a migração dos profissionais. "A maioria dos recém formados anseia
entrar na residência médica para se especializar, melhorando, assim, suas
condições de trabalho", adverte.
A
disparidade entre o número de generalistas e especialistas tem causado
morosidade no atendimento de algumas áreas específicas. Conforme o Cremec, as
maiores dificuldades em obter consulta são na área de neurologia,
otorrinolaringologia, endocrinologia, ortopedia e dermatologia, podendo levar o
paciente a esperar até nove meses. "Vale ressaltar que as pequenas cidades
contam apenas com os médicos do Programa Estratégia de Saúde da Família. Os
especialistas geralmente atendem em policlínicas", diz a entidade.
Dentre
as três seccionais do Cremec (Cariri, Zona Norte e Centro-Sul), a região Norte
apresenta maior proporção de médicos especialistas para generalistas. Cerca de
27% dos 571 médicos registrados possuem pelo menos uma especialidade. A média
na seccional Centro-Sul é de apenas 17%, e no Cariri de 25%.
Grandes cidades
De
acordo com o Conselho, não é possível aferir a proporção dos generalistas para
os especialistas em todo o Interior, "tendo em vista que os especialistas
se concentram nas grandes cidades, e mensurar uma proporção através dos números
gerais de todas as cidades não corresponderia à realidade".
Estudo
do Ministério da Saúde aponta desigualdade de informações sobre formação de
médicos especialistas no Brasil. A primeira área analisada foi a de
oftalmologia. Entre os cadastros existentes, a variação de dados foi de 75,6%.
Outras duas especialidades, cardiologia e ortopedia, também estão sendo
analisadas e já apresentam um desencontro de informações.
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