Boletim Epidemiológico do
Ministério da Saúde revela que o Ceará é o quarto no Brasil em número de mortes
por dengue. O Estado ocupa a mesma posição em casos graves e sinais de alarme
da doença. O relatório resume dados entre janeiro e 18 de julho deste ano e
aponta ainda 30 óbitos (o boletim da Secretária Estadual da Saúde já
contabiliza 48 até o dia 14 de agosto). São Paulo, com 360; Goiás, com 60, e
Minas Gerais, 45, estão acima do Ceará.
Ainda
segundo o Ministério da Saúde, a situação também é preocupante em relação aos
casos graves ou com sinais de alarme da doença. Nesses quesitos, o Estado
também está em quarto. São, respectivamente, 77 e 528 ocorrências confirmadas.
Mais uma vez, São Paulo lidera, com 543 e 11.398 casos. Em seguida, estão Goiás
- 124 e 880 - e Minas, com 83 e 762 registros positivos para dengue.
Condições
favoráveis de calor e umidade, qualidade das operações de rotinas no controle
do mosquito transmissor da doença, o Aedes aegypti, uso mais racional do
larvicida por parte dos municípios e a falta de participação da população são
fatores apontados por especialistas para o avanço da dengue no Brasil e no
Ceará.
Um dos
agentes de endemias de Fortaleza, Marcos Aurélio Silva, diz que, mesmo com o
uso do inseticida, o combate das larvas do mosquito não tem efetividade.
"O produto só age por dez dias e a gente vai nas residências quatro vezes
por ano ou de três em três meses. Isso é pouco, principalmente porque as
pessoas não estão nem aí", afirma.
Marcos
também chama atenção para as dificuldades encontradas no trabalho. "Não
temos crachá, o que muitas vezes nos impede de entrar nas casas. A falta de
equipamentos obrigatórios de proteção adequados e a sobrecarga de trabalho são
coisas que, somadas aos outros fatores, resultam no cenário que a gente está
vendo", analisa.
O
infectologista Anastácio Queiroz concorda com o agente. No entanto, avalia que
é impossível, sem a colaboração de todos, combate o mosquito. "Eu faço
minha parte, você faz, seu vizinho faz, mas basta um deixar para lá e abrir
guarda, o Aedes aegypti vai agir e se proliferar. Portanto, é um desafio imenso
somar as ações do governo, recursos e 100% de população consciente. Estamos completando
30 anos da doença, sabemos como combatê-la e destruí-la, mas, infelizmente,
estamos muito distantes disso", lamenta.
Racionalização
A
Secretaria Estadual da Saúde (Sesa), via assessoria de comunicação, explica que
a recomendação do uso racional do inseticida por parte dos municípios foi feita
a partir da redução no estoque liberado pelo Ministério da Saúde e que não se
pode afirmar ou sequer atribuir a elevação dos índices de infestação vetorial à
redução do larvicida usado para o controle da dengue.
"Outras
estratégias bastante efetivas devem ser utilizadas para conter a disseminação
do mosquito, como recolhimento de resíduos, proteção de depósitos, eliminação
de depósitos inservíveis, controle biológico com peixes larvófagos (que se
alimentam de larvas e pupas), o uso de instrumentos legais que responsabilizem
os proprietários dos imóveis infestados", diz a nota.
O
gerente da Célula de Vigilância Sanitária e Riscos Biológicos da Secretaria de
Saúde de Fortaleza, Nélio Moraes, afirma que a Capital não foi afetada com a
redução do larvicida e que os agentes trabalham normalmente. "Sem a
população, as ações ficam pela metade", diz.
Lêda Gonçalves
Repórter
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