Seja bem vindo...

Páginas

quinta-feira, 18 de junho de 2015

39 adolescentes são assassinados a cada mês

As falas oficiais mais recentes sobre segurança pública no Estado comemoram, em uníssono, a queda dos índices criminais. Mês a mês, 2015 vem registrando diminuição geral do número de homicídios, uma possível reversão da devastadora violência. Entre adolescentes, a redução de mortes em crimes violentos, de janeiro a maio últimos, foi de cerca de 18%, em relação a 2014. Porém, o otimismo inicial pode mascarar a realidade de risco ao qual meninos e meninas continuam submetidos. Neste ano, a cada mês, foram assassinados 39 adolescentes, em média, no Estado. Pelo menos um por dia. Vidas que mal começaram e já chegaram ao fim.

Nos cinco primeiros meses de 2015, conforme as estatísticas da Secretaria de Segurança Pública e Defesa Social do Estado (SSPDS), 195 pessoas com idade entre 12 e 17 anos foram vítimas de Crimes Violentos Letais Intencionais (CVLI). A maioria dos casos envolve homicídios dolosos, mas os dados também incluem latrocínios e lesões corporais seguidas de morte. De acordo com o órgão, os óbitos de adolescentes representam cerca de 11% de todos os CVLI registrados no Ceará em 2015.
À medida que ficam mais velhos, eles se tornam alvos maiores. Os relatórios da Secretaria mostram que as faixas etárias dos 15, 16 e 17 anos são as mais afetadas, contabilizando, respectivamente, 32, 49 e 66 vítimas. Juntos, somam 75% do total.
Comumente associados ao consumo ou ao tráfico de drogas, em especial nas periferias urbanas, os assassinatos infanto-juvenis, para César Barreira, coordenador do Laboratório de Estudos sobre a Violência (LEV) da Universidade Federal do Ceará (UFC), costumam ser vistos sob um olhar generalizador. Contrariando o senso comum, ele destaca que nem todas as mortes estão relacionadas ao contato precoce com substâncias ilícitas, mas, sim, à convivência em um contexto social violento e de vulnerabilidade.
Pesquisador
"Claro que existe esse percentual que está relacionado, até porque sabemos que, hoje, o jovem é a mão armada do grande traficante, contratado para resolver as pendências", afirma o pesquisador. "Mas esses assassinatos também decorrem das brigas de gangues, que não necessariamente têm a ver com drogas, e da própria vinculação forte dos adolescentes com a cultura da violência, em que os conflitos são resolvidos com violência", completa Barreira.
Aurilene Vidal, integrante do Fórum de Organizações Não-Governamentais de Defesa dos Direitos da Criança e do Adolescente (Fórum DCA), destaca que, hoje, os adolescentes vítimas da violência são provenientes das regiões com os menores Índices de Desenvolvimento Humano (IDH). Áreas onde a falta de oportunidade provoca o aumento dos índices de delinquência e, consequentemente, deixa meninos e meninos mais expostos a situações de risco, mesmo não estando envolvidos com a criminalidade. "Acontece, muitas vezes, de o irmão ou algum familiar cometer um ato infracional e o adolescente ser morto como pagamento. É uma situação muito difícil de medir", avalia.
Vanessa Madeira
Repórter

Nenhum comentário:

Postar um comentário