Nos últimos dez anos, houve
um aumento de 319% da quantidade de doadores efetivos de órgãos
O bom funcionamento dos
órgãos é fundamental à vida. Mas, quando um deles falha, é preciso contar com a
solidariedade dos doadores. Neste quesito, o povo cearense se destaca. Afinal,
de acordo com a avaliação do presidente da Associação Brasileira de Transplante
de Órgãos (ABTO), José Medina, o Ceará foi o Estado brasileiro que mais cresceu
em número de doações nos últimos dez anos.
A evolução coincide com a data de
aniversário da Campanha Doe de Coração, da Fundação Edson Queiroz, que, neste
mês de setembro, comemora sua 10ª edição com resultados positivos.
Francisco Martins, de Porto
Velho, passou por transplante em 2007. Foto: Marília Camelo
Conforme dados da Central de
Transplantes do Ceará, houve um aumento de 319% no número de doadores nos
últimos dez anos no Ceará. De janeiro a junho de 2003, meses anteriores ao
lançamento do movimento, foram registrados apenas 21 doadores efetivos no
Estado. De janeiro a junho deste ano, eles já somam 88, ou seja, um aumento de
319%
Este cenário, segundo dados
da ABTO, colaborou para classificar o Estado, no primeiro semestre de 2012,
como o segundo do País em número de doadores efetivos por milhão de habitantes
(20,8), ficando atrás de Santa Catarina, que apresentou 26,6 doadores efetivos
na mesma proporção. Outra boa notícia é que o Ceará continua bem acima da média
nacional, que é de 12 doadores por milhão de pessoas.
Para o secretário da Saúde
do Estado, Arruda Bastos, a Campanha Doe de Coração teve uma grande
participação neste resultado. "Estamos batendo recordes sucessivos por
conta da campanha. Alcançamos uma das menores filas de espera", declara.
Procura
O grande avanço do Ceará
atrai, para o Estado, pacientes de todo o Brasil em busca de uma nova vida. Foi
o caso do designer gráfico Francisco Martins, que é de Porto Velho, em
Rondônia. Devido a uma cirrose hepática, ele veio morar em Fortaleza em
2007para tentar conseguir um transplante de fígado.
No mesmo ano, ele passou
pela cirurgia, que foi um sucesso. Hoje, ele ainda mora na Capital e não
pretende voltar para Porto Velho, pois "já virou cearense".
Ranking
A solidariedade, aliada à
tecnologia e à capacitação das equipes, tem acelerado os transplantes. De
janeiro a agosto deste ano, foram realizados 812 procedimentos. O fígado é o
destaque entre os órgãos transplantados no primeiro semestre, ocupando a
primeira colocação no ranking nacional, com 19,4 transplantes por milhão de
habitantes.
Mas, nem sempre foi assim
tão fácil, afirma o presidente da Associação Cearense de Transplantados e
Pacientes Hepáticos (Acephet), José Wilter Ibiapina, transplantado de fígado há
exatos nove anos e sete meses. Ele conta que, devido a uma cirrose hepática gerada
pelo vírus da hepatite C, teve de aguardar sete meses e sete dias na fila de
espera por um fígado. Na época, afirma Wilter, o procedimento tinha acabado de
ser implantado no Ceará, e ele seria o décimo transplantado. "Eu tive fé e
acreditei que poderia ser curado. Passaram-se quase dez anos, vi meus dois
netos nascerem e, hoje, trabalho em prol daqueles que precisam de um órgão para
viver".
Mérito
Para o presidente da
Fundação Edson Queiroz, chanceler Airton Queiroz, o principal mérito da
Campanha Doe de Coração é superar-se desde seu início, em setembro de 2003.
"Após avaliar os resultados de cada edição, estamos felizes com o
crescimento do número de transplantes. Mas, nunca nos damos por satisfeitos e
sempre conseguimos, no ano seguinte, melhorar o índice excepcional de pessoas
beneficiadas. A conscientização para o tema é de alta relevância para toda a
sociedade e deve ter continuidade permanente", analisa.
Segundo a coordenadora da
Central de Transplantes do Estado, Eliana Barbosa, os avanços do Ceará têm a
influência da Campanha Doe de Coração. "O movimento é muito amplo e possui
material muito bom, com informações claras, tirando dúvidas da população. Ao
longo do ano, a Universidade realiza palestras sobre o tema que realmente fazem
a diferença e têm contribuído para esse aumento no número de doadores",
enfatiza.
A reitora da Unifor, Fátima
Veras, diz que a campanha é de extrema importância para a população. "À
medida que mais pessoas conhecem o movimento, a possibilidade do número de
doadores cresce, o que pode ser observado ao longo dos anos desta campanha.
Além disso, o esclarecimento realizado nesse período tem trazido muitos
benefícios para toda a sociedade", diz.
"O principal mérito da
campanha "Doe de Coração" é superar-se desde seu início em setembro
de 2003. Após avaliar os resultados de cada edição, estamos felizes com o
crescimento do número de transplantes. Mas nunca nos damos por satisfeitos e
sempre conseguimos, no ano seguinte, melhorar o índice excepcional de pessoas
beneficiadas. A conscientização para o tema é de alta relevância para toda a
sociedade e deve ter continuidade permanente."
AIRTON QUEIROZ
Presidente da Fundação Edson
Queiroz e do Sistema Verdes Mares
O QUE ELES PENSAM
Contribuições da campanha
"O Ceará é o Estado que
mais progrediu no Brasil em número de doações nos últimos dez anos. A Campanha
Doe de Coração é fundamental para essa evolução, pois vai alicerçando na
cultura da população o benefício da doação de órgãos, mostrando que, quando a
pessoa morre, pode continuar contribuindo para a sociedade e ajudando a
recuperar pessoas que tinham doenças irreversíveis. A Campanha Doe de Coração e
é um sucesso"
José Medina Pestana
Presidente da ABTO
"Os dez anos da
Campanha Doe de Coração coincidem com o início do programa de transplante
hepático no Hospital Universitário Walter Cantídio, implantado em 2002. Neste
ano, fizemos oito transplantes no Ceará. Em 2011, a unidade realizou 124
transplantes. A equipe fez, neste ano, 90 transplantes de fígado. A campanha é
essencial, pois só é possível fazer transplante se houver doações".
José Huygens Garcia
Chefe do Serviço de
Transplante de Fígado do Hospital Universitário Walter Cantídio
HUWC faz milésimo
transplante de rim
O estudante de enfermagem
Liberson José Rocha e Silva, 29 anos, desde os cinco anos de idade é diabético.
A força da doença influenciou no desenvolvimento físico do jovem e o deixou
deficiente visual. Em maio do ano passado, em decorrência da diabetes, adquiriu
insuficiência renal, que o obrigou a fazer hemodiálise. Entretanto, no fim do
ano, depois de ter sérias complicações, foi indicado para fazer os transplantes
de rins e de pâncreas. Na madrugada de sexta-feira (31), no Hospital
Universitário Walter Cantídio (HUWC), ele foi contemplado com os dois órgãos e
concretizou um feito histórico: o milésimo transplante de fígado da unidade.
foto
Movimento esclarece as
dúvidas da população sobre o ato de doar órgãos e enfatiza a importância deste
ato para salvar vidas Foto: Waleska Santiago
A mãe de Liberson, a
autônoma Liduína Rocha e Silva, conta que o filho sofreu muito desde a infância
por causa da doença e atribui a conquista do transplante à solidariedade da
população cearense. "Tudo que eu tenho a pedir é que as pessoas se sensibilizem
mais para as doações. Antes, eu não me importava com o assunto. Hoje, eu falo
para todos o quanto é importante doar e oferecer oportunidade de uma nova vida
para aqueles que ficam na terra", afirma.
O coordenador da Equipe
Cirúrgica de Transplante de Rim do HUWC, o urologista Ailson Gurgel Fernandes,
conta que tem orgulho de dizer que fez parte da equipe médica que realizou o
primeiro transplante de rim, no ano de 1977, e também do milésimo. Segundo ele,
nos primeiros dez anos, eram feitos apenas de um a dois transplantes por ano na
unidade.
Com o passar dos anos, o
número de procedimentos foi aumentando, mas as doações não eram suficientes,
pois faltava uma campanha esclarecendo as dúvidas sobre o ato de doar.
Missão
Foi então, que, de acordo
com o médico, a Fundação Edson Queiroz assumiu esse papel por meio da Campanha
Doe de Coração e, de repente, o Estado passou a realizar mais de 100
transplantes de rim por ano.
"Comparo essa evolução
como se o ato de doar fosse uma criança e, por causa da campanha, se tornou um
adulto forte. Não foram apenas mil transplantes que eu fiz, foram mil pessoas
doentes que ganharam vidas novas. É como se eu tivesse feito mil partos",
ressaltou.
Para Ailson Gurgel, é muito
importante que o doador de órgãos deixe claro para a família a sua vontade,
pois essa ação facilita muito na hora da decisão dos parentes. "Se você
expressa o seu desejo de ser doador, tudo fica mais fácil. O ato de doação é
voluntário e há um diferencial enorme antes da Campanha Doe de Coração e
depois. A Fundação Edson Queiroz apadrinhou a doação de órgãos no Estado e
estamos colhendo muitos frutos e vitórias", avalia.
A nefrologista e chefe do
Serviço de Transplante Renal do HUWC, Paula Camurça Fernandes, ressalta a
importância da marca de mil transplantes, uma conquista de toda a equipe da
unidade.
"Nossa missão é levar
esperança aos portadores de insuficiência renal crônica, reintegrar o indivíduo
à sociedade, através da realização do transplante renal, que fornecerá melhor
qualidade de vida àqueles que recebem um rim", afirma.
Copilado do Diário do
Nordeste
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