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sábado, 1 de setembro de 2012

Ceará é o Estado do País com maior crescimento em número de doações


Nos últimos dez anos, houve um aumento de 319% da quantidade de doadores efetivos de órgãos

O bom funcionamento dos órgãos é fundamental à vida. Mas, quando um deles falha, é preciso contar com a solidariedade dos doadores. Neste quesito, o povo cearense se destaca. Afinal, de acordo com a avaliação do presidente da Associação Brasileira de Transplante de Órgãos (ABTO), José Medina, o Ceará foi o Estado brasileiro que mais cresceu em número de doações nos últimos dez anos.
A evolução coincide com a data de aniversário da Campanha Doe de Coração, da Fundação Edson Queiroz, que, neste mês de setembro, comemora sua 10ª edição com resultados positivos.

Francisco Martins, de Porto Velho, passou por transplante em 2007. Foto: Marília Camelo

Conforme dados da Central de Transplantes do Ceará, houve um aumento de 319% no número de doadores nos últimos dez anos no Ceará. De janeiro a junho de 2003, meses anteriores ao lançamento do movimento, foram registrados apenas 21 doadores efetivos no Estado. De janeiro a junho deste ano, eles já somam 88, ou seja, um aumento de 319%

Este cenário, segundo dados da ABTO, colaborou para classificar o Estado, no primeiro semestre de 2012, como o segundo do País em número de doadores efetivos por milhão de habitantes (20,8), ficando atrás de Santa Catarina, que apresentou 26,6 doadores efetivos na mesma proporção. Outra boa notícia é que o Ceará continua bem acima da média nacional, que é de 12 doadores por milhão de pessoas.

Para o secretário da Saúde do Estado, Arruda Bastos, a Campanha Doe de Coração teve uma grande participação neste resultado. "Estamos batendo recordes sucessivos por conta da campanha. Alcançamos uma das menores filas de espera", declara.

Procura

O grande avanço do Ceará atrai, para o Estado, pacientes de todo o Brasil em busca de uma nova vida. Foi o caso do designer gráfico Francisco Martins, que é de Porto Velho, em Rondônia. Devido a uma cirrose hepática, ele veio morar em Fortaleza em 2007para tentar conseguir um transplante de fígado.
No mesmo ano, ele passou pela cirurgia, que foi um sucesso. Hoje, ele ainda mora na Capital e não pretende voltar para Porto Velho, pois "já virou cearense".

Ranking

A solidariedade, aliada à tecnologia e à capacitação das equipes, tem acelerado os transplantes. De janeiro a agosto deste ano, foram realizados 812 procedimentos. O fígado é o destaque entre os órgãos transplantados no primeiro semestre, ocupando a primeira colocação no ranking nacional, com 19,4 transplantes por milhão de habitantes.

Mas, nem sempre foi assim tão fácil, afirma o presidente da Associação Cearense de Transplantados e Pacientes Hepáticos (Acephet), José Wilter Ibiapina, transplantado de fígado há exatos nove anos e sete meses. Ele conta que, devido a uma cirrose hepática gerada pelo vírus da hepatite C, teve de aguardar sete meses e sete dias na fila de espera por um fígado. Na época, afirma Wilter, o procedimento tinha acabado de ser implantado no Ceará, e ele seria o décimo transplantado. "Eu tive fé e acreditei que poderia ser curado. Passaram-se quase dez anos, vi meus dois netos nascerem e, hoje, trabalho em prol daqueles que precisam de um órgão para viver".

Mérito

Para o presidente da Fundação Edson Queiroz, chanceler Airton Queiroz, o principal mérito da Campanha Doe de Coração é superar-se desde seu início, em setembro de 2003. "Após avaliar os resultados de cada edição, estamos felizes com o crescimento do número de transplantes. Mas, nunca nos damos por satisfeitos e sempre conseguimos, no ano seguinte, melhorar o índice excepcional de pessoas beneficiadas. A conscientização para o tema é de alta relevância para toda a sociedade e deve ter continuidade permanente", analisa.

Segundo a coordenadora da Central de Transplantes do Estado, Eliana Barbosa, os avanços do Ceará têm a influência da Campanha Doe de Coração. "O movimento é muito amplo e possui material muito bom, com informações claras, tirando dúvidas da população. Ao longo do ano, a Universidade realiza palestras sobre o tema que realmente fazem a diferença e têm contribuído para esse aumento no número de doadores", enfatiza.

A reitora da Unifor, Fátima Veras, diz que a campanha é de extrema importância para a população. "À medida que mais pessoas conhecem o movimento, a possibilidade do número de doadores cresce, o que pode ser observado ao longo dos anos desta campanha. Além disso, o esclarecimento realizado nesse período tem trazido muitos benefícios para toda a sociedade", diz.

"O principal mérito da campanha "Doe de Coração" é superar-se desde seu início em setembro de 2003. Após avaliar os resultados de cada edição, estamos felizes com o crescimento do número de transplantes. Mas nunca nos damos por satisfeitos e sempre conseguimos, no ano seguinte, melhorar o índice excepcional de pessoas beneficiadas. A conscientização para o tema é de alta relevância para toda a sociedade e deve ter continuidade permanente."
AIRTON QUEIROZ
Presidente da Fundação Edson Queiroz e do Sistema Verdes Mares

O QUE ELES PENSAM
Contribuições da campanha

"O Ceará é o Estado que mais progrediu no Brasil em número de doações nos últimos dez anos. A Campanha Doe de Coração é fundamental para essa evolução, pois vai alicerçando na cultura da população o benefício da doação de órgãos, mostrando que, quando a pessoa morre, pode continuar contribuindo para a sociedade e ajudando a recuperar pessoas que tinham doenças irreversíveis. A Campanha Doe de Coração e é um sucesso"
José Medina Pestana
Presidente da ABTO

"Os dez anos da Campanha Doe de Coração coincidem com o início do programa de transplante hepático no Hospital Universitário Walter Cantídio, implantado em 2002. Neste ano, fizemos oito transplantes no Ceará. Em 2011, a unidade realizou 124 transplantes. A equipe fez, neste ano, 90 transplantes de fígado. A campanha é essencial, pois só é possível fazer transplante se houver doações".
José Huygens Garcia
Chefe do Serviço de Transplante de Fígado do Hospital Universitário Walter Cantídio

HUWC faz milésimo transplante de rim

O estudante de enfermagem Liberson José Rocha e Silva, 29 anos, desde os cinco anos de idade é diabético. A força da doença influenciou no desenvolvimento físico do jovem e o deixou deficiente visual. Em maio do ano passado, em decorrência da diabetes, adquiriu insuficiência renal, que o obrigou a fazer hemodiálise. Entretanto, no fim do ano, depois de ter sérias complicações, foi indicado para fazer os transplantes de rins e de pâncreas. Na madrugada de sexta-feira (31), no Hospital Universitário Walter Cantídio (HUWC), ele foi contemplado com os dois órgãos e concretizou um feito histórico: o milésimo transplante de fígado da unidade.

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Movimento esclarece as dúvidas da população sobre o ato de doar órgãos e enfatiza a importância deste ato para salvar vidas Foto: Waleska Santiago

A mãe de Liberson, a autônoma Liduína Rocha e Silva, conta que o filho sofreu muito desde a infância por causa da doença e atribui a conquista do transplante à solidariedade da população cearense. "Tudo que eu tenho a pedir é que as pessoas se sensibilizem mais para as doações. Antes, eu não me importava com o assunto. Hoje, eu falo para todos o quanto é importante doar e oferecer oportunidade de uma nova vida para aqueles que ficam na terra", afirma.

O coordenador da Equipe Cirúrgica de Transplante de Rim do HUWC, o urologista Ailson Gurgel Fernandes, conta que tem orgulho de dizer que fez parte da equipe médica que realizou o primeiro transplante de rim, no ano de 1977, e também do milésimo. Segundo ele, nos primeiros dez anos, eram feitos apenas de um a dois transplantes por ano na unidade.

Com o passar dos anos, o número de procedimentos foi aumentando, mas as doações não eram suficientes, pois faltava uma campanha esclarecendo as dúvidas sobre o ato de doar.

Missão

Foi então, que, de acordo com o médico, a Fundação Edson Queiroz assumiu esse papel por meio da Campanha Doe de Coração e, de repente, o Estado passou a realizar mais de 100 transplantes de rim por ano.

"Comparo essa evolução como se o ato de doar fosse uma criança e, por causa da campanha, se tornou um adulto forte. Não foram apenas mil transplantes que eu fiz, foram mil pessoas doentes que ganharam vidas novas. É como se eu tivesse feito mil partos", ressaltou.

Para Ailson Gurgel, é muito importante que o doador de órgãos deixe claro para a família a sua vontade, pois essa ação facilita muito na hora da decisão dos parentes. "Se você expressa o seu desejo de ser doador, tudo fica mais fácil. O ato de doação é voluntário e há um diferencial enorme antes da Campanha Doe de Coração e depois. A Fundação Edson Queiroz apadrinhou a doação de órgãos no Estado e estamos colhendo muitos frutos e vitórias", avalia.

A nefrologista e chefe do Serviço de Transplante Renal do HUWC, Paula Camurça Fernandes, ressalta a importância da marca de mil transplantes, uma conquista de toda a equipe da unidade.

"Nossa missão é levar esperança aos portadores de insuficiência renal crônica, reintegrar o indivíduo à sociedade, através da realização do transplante renal, que fornecerá melhor qualidade de vida àqueles que recebem um rim", afirma.

Copilado do Diário do Nordeste

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