Falta
de carteira de habilitação está entre as principais infrações praticadas por
condutores de motos
Quixadá. As motocicletas são a principal causa dos problemas
no trânsito do Interior do Ceará. Conforme dados do Departamento Estadual de
Trânsito (Detran) e Polícia Rodoviária Estadual (PRE), somente neste ano, de
janeiro até a primeira semana de abril, 2.500 motos já foram apreendidas. A
maioria dos casos era de condutores sem a Carteira Nacional de Habilitação
(CNH). Das infrações registradas no trânsito do Interior, 70% são cometidas por
motociclistas. Depois da falta da CNH, a falta do principal equipamento
obrigatório, o capacete, vem logo em seguida entre as infrações.
O
número de multas aumentou 101% em relação a igual período do ano passado.
Seriam ainda maiores para uma frota de 663.392 motocicletas em circulação nas
cidades interioranas se o Detran e a PRE fossem mais rigorosos, cobrassem
também o uso de calçado adequado para esse tipo de veículo motorizado.
Todavia,
a maior preocupação é com os acidentes. No ano passado, 930 pessoas perderam a
vida sobre duas rodas no Ceará. De acordo com os representantes dos órgãos de
trânsito, mais da metade dos óbitos estão relacionados à embriaguez.
Neste
ano, até março, 1.119 motoristas e motociclistas foram punidos
administrativamente por dirigir alcoolizados nas rodovias cearenses. No ano
passado, foram apenas 187. O acréscimo, próximo à casa dos 600%, está associado
ao conhecimento da possibilidade de pararem atrás das grades caso soprem o
bafômetro e o resultado do teste seja superior a 0,6g/l. Por isso, se recusam em
fazer o exame. Não se arriscam. Preferem ter a CNH apreendida.
Na
opinião do comandante da PRE, coronel Túlio Studart, esses números refletem a
omissão de Prefeituras do Interior em relação à fiscalização do trânsito. No
último fim de semana, oito pessoas morreram e 52 ficaram feridas nas CEs e BRs.
Foram registrados 62 acidentes. O balanço foi levantado junto às Polícias
Rodoviárias do Estado e Federal. O comandante da PRE considera esses resultados
alarmantes. Do total de mortos, quatro eram motociclistas e outros dois
ciclistas. Embora a maioria dos casos ocorra por imprudência e negligencia de
quem conduz o veículo, a falta de fiscalização contribui para a elevação dos
desastres. Ele se refere à ausência de órgãos municipais de trânsito na maioria
das cidades cearenses. Apenas 52 implantaram Departamentos ou Autarquias. Desse
total, no máximo dez executam a atividade com eficiência. O oficial não citou
os nomes das cidades. Uma semana antes, uma colisão causou a morte de dois
jovens em Quixadá. Um
deles era um mototaxista de 20 anos. O outro era um estudante de 17 anos. Uma
musicista de 23 anos ainda está internada no Instituto José Frota (IJF) em Fortaleza. Os três
trafegavam numa motocicleta, na manhã do domingo, quando foram colhidos por uma
caçamba.
De
acordo com a Perícia Forense, o motociclista realizou uma manobra imprudente e
foram atingidos pelo utilitário. Testemunhas haviam visto o piloto consumindo
bebida alcoólica na madrugada. O acidente ocorreu pela manhã, já dia claro.
Foram mais três vítimas nas estatísticas do trânsito desta cidade do Sertão
Central.
A
respeito das fiscalizações no Interior, o comandante Studart explica ser
obrigação dos Municípios, conforme determina o Código de Trânsito Brasileiro
(CTB), desde 1997, mas a maioria não tem interesse. Para o oficial militar,
infelizmente, muitos só passam a respeitar as normas quando são punidos. Além
dos transtornos à segurança, também provocam prejuízos à saúde pública. Ele
cita os casos de traumatismo craniano, pela falta do uso de capacete e fraturas
por todo o corpo, em razão das quedas e outros acidentes. "Representam 90%
dos internamentos no IJF", acrescenta o comandante PM.
Representando
o Ministério Público Estadual, o promotor de Justiça Gilvan Melo acredita na
educação como melhor solução para o problema. Na opinião do promotor, a maioria
das Prefeituras não tem estrutura para implantarem seus órgãos de fiscalização.
"Ao invés de multas, deveriam se preocupar em melhorar a malha viária e da
sinalização", destaca Gilvan Melo.
Mais
informações:
Departamento
Estadual de Trânsito Av. Godofredo Maciel, 2900 Fortaleza, (85) 3101.5588
Polícia
Rodoviária Estadual
Telefone:
(85) 3433.7010
Reforço
deve melhorar blitze nas vias públicas
O
superintendente do Departamento Municipal de Trânsito (DMT) de Quixadá,
Francisco Clerton do Carmo, atribui os elevados índices de acidentes no
trânsito à falta de educação dos motoristas e principalmente dos motociclistas.
Reconhece haver na sua cidade falha na sinalização. Quanto à fiscalização,
disse que o DMT está ganhando reforço. Além de mais dez agentes, o órgão
receberá no dia 1º de maio mais três motocicletas e um automóvel.
No
total, 18 agentes estarão atuando no Município. O reforço deverá inibir os
acidentes como também elevará o número de veículos apreendidos até os
proprietários se conscientizarem de suas responsabilidades e obrigações no
trânsito. "O Detran e a PRE também podiam ajudar", ressalta ele.
De
acordo com o Detran, o órgão estadual realiza fiscalizações frequentes no
Interior. Nas blitze conta com apoio da Polícia Rodoviária do Estado. Apesar da
apreensão dos veículos e aplicação de multas, algumas superiores a R$ 2 mil, os
condutores aparentam não se intimidar com as fiscalizações. Acabam arranjando
um jeito de voltarem às ruas, geralmente sobre duas rodas. Os depósitos dos
departamentos e autarquias de trânsito estão lotados, mas sempre aparecem mais
motocicletas. Os mais atentos, quando veem as equipes, procuram fugir. Alguns
furam as barreiras policiais, outros não. Acabam nas delegacias, hospitais ou
cemitérios.
Punição
A
respeito do comportamento dos infratores, tanto representantes das instituições
estaduais como municipais responsáveis pela fiscalização, avaliam a punição
como alternativa mais rápida para redução dos problemas. Sem elas o número de
acidentes e de mortes no Interior seriam ainda mais elevados.
Para
a maioria, acidentes e tragédias só acontecem com os outros. "Dificilmente
um ser adulto aceitará novas regras. A conscientização e assimilação dos
conceitos corretos e respeito às leis do trânsito está na educação escolar, na
formação das crianças e adolescentes", avalia o coronel PM, Studart.
Flagrados
praticando irregularidades, os motoristas e motociclistas fugiam da reportagem.
Quem estava sem capacete, sem calçado adequado e a moto não emplacada e se
dispôs a falar sobre o assunto, pediu para não ter seu nome revelado. Era um
vendedor de 26 anos. Para ele as autoridades deveriam se preocupar com
problemas mais graves como assaltos a bancos assassinatos e roubos.
Ele
citou também os políticos. Apontou a corrupção como outro motivo para a prática
da irregularidade. "Se o meu vizinho, chapa de um vereador, anda por aí
todo irregular e até o filho dele, de 14 anos, dirige e pilota moto pra cima e
pra baixo, porque eu não posso? Se onde não tem fiscalização o prefeito não
cobra, onde tem, eles costumam cobrar, quando não é em voto é em dinheiro",
desabafa.
Quixeramobim
é uma das raras cidades do Estado onde não há interferência política, garante o
presidente da Autarquia Municipal de Trânsito, Mauro Ricarte. Segundo ele, o
gestor municipal dá plena autonomia ao órgão, onde não existe aquele "favorzinho".
Quem infringe a lei é punido. Como na análise do comandante da PRE os
motociclistas são os campeões de infração na cidade, afinal, representam mais
de 70% da atual frota de 15 mil veículos.
Muita
coisa melhorou na área urbana. Praticamente ninguém circula sem capacete. A
desobediência acaba em
multa. Mesmo assim, em razão do número limitado de agentes,
não há como fiscalizar toda a cidade durante 24 horas por dia. O número de
fiscais é o mesmo, desde a implantação da primeira autarquia da região, em
2006. "Na época, a frota era de 5 mil automotores e motocicletas",
explica Ricarte.
Dados
do Departamento Estadual de Trânsito (Detran) apontam quase 1,2 milhão de
veículos registrados no Interior do Ceará. O crescimento, de 2002 aos primeiros
meses de 2012, é de 225,44%.
Na
capital, o percentual nesses 10 anos atingiu 96,11%. São 789 mil até fevereiro.
Desse total, 63,42% ou 750.448, são motocicletas e motonetas, veículos com
menos 50 cilindradas.
ALEX
PIMENTEL
COLABORADOR
Copilado
do Diário do Nordeste
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