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sábado, 28 de janeiro de 2012

Com pouca acessibilidade, o Brasil perde visitantes


Ministério do Turismo faz reuniões para definir projetos de turismo para pessoas com necessidades especiais.
 A falta de acessibilidade no dia a dia das cidades não é assunto novo. Apesar de o Brasil ter 28,5 milhões de pessoas com deficiência, hotéis, meios de transporte e pontos turísticos nacionais ainda não estão preparados para receber esse público.
Com os interesses em torno da Copa do Mundo de 2014 e das paraolimpíadas, começam a surgir sinais de novas iniciativas. O Ministério do Turismo (MTur) pretende intensificar as ações voltadas para a inclusão das pessoas com deficiência no mercado do turismo. A ideia é unir esforços com outros órgãos públicos e com a iniciativa privada para a implantação de projetos que estimulem e possibilitem o acesso desse pessoal aos destinos e equipamentos turísticos.
Neste mês foram realizadas duas reuniões distintas para tratar dessa ação. O MTur reuniu-se com representantes da Secretaria Nacional de Direitos Humanos (SNDH) da Presidência da República para discussão de projeto de certificação em acessibilidade no turismo, baseado em modelo adotado na Europa.
Outro interlocutor do MTur é a Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT), com a qual se discute a adaptação de parte da frota das transportadoras turísticas para atender a pessoas com necessidades especiais. O mesmo tema será debatido com a Agência Nacional de Transportes Aquaviários (Antaq), para melhorar o acesso às embarcações.
Nas ações voltadas para pessoas com deficiência, o melhor exemplo para o Instituto Brasileiro de Turismo (Embratur) é a experiência, bem sucedida, no Município de Socorro, no interior de São Paulo. Referência no segmento de Aventura Especial (projeto coordenado pelo MTur), a cidade tem hoje infraestrutura urbana, hoteleira e de entretenimento adaptada e acessível. Uma ação que se tornou possível a partir do envolvimento dos representantes das iniciativas pública e privada.
Promessas acessíveis
Ao considerar os avanços na cidade de Socorro, a Embratur lança o Turismo Sem Limites e anuncia edital sobre o tema para este mês. O programa nasce com o objetivo de divulgar, no exterior, destinos turísticos brasileiros adaptados às pessoas com deficiência. "Além de sua função social, há uma questão econômica. Na Europa, há um público potencial estimado de cerca de 80 milhões de pessoas para o chamado Turismo Acessível, ou seja, adaptado a pessoas com deficiência", explica o presidente da Embratur, Flávio Dino.
O primeiro passo da iniciativa será trazer turistas da América do Sul para conhecer a Estância Hidromineral de Socorro. Futuramente, o programa deverá se estender também para promoção junto a operadores de turismo e jornalistas, para conhecerem os produtos, serviços e destinos turísticos brasileiros que sejam acessíveis aos deficientes.

O programa também tem um efeito interno, segundo Dino. A divulgação da Estância Hidromineral de Socorro deve incentivar outras cidades a investir na adaptação de seus roteiros turísticos. "Precisamos lembrar também que, no ciclo de megaeventos, o Brasil irá sediar as Paraolimpíadas em 2016, o que exigirá a intensificação dos investimentos voltados à acessibilidade nos produtos, serviços e destinos turísticos", explica o presidente.
Passo a passo
A princípio o Turismo Sem limites pretende trazer turistas de países sul-americanos para a Estância Hidromineral de Socorro, única no Brasil hoje totalmente adaptada ao turismo acessível. O município paulista possui rotas de ecoturismo e turismo de aventura adaptadas a pessoas com deficiência. São 15 modalidades esportivas adaptadas a esse público, como arvorismo, canoagem, cavalgada, escalada, rafting, rapel e tirolesa. Além disso, os pontos turísticos da cidade estão interligados por rotas adaptadas a pessoas com deficiência.
Toda a acessibilidade fez parte de um projeto de médio prazo. De 2006 a 2008, houve investimento de R$ 1,73 milhão em obras de infraestrutura turística, cursos de qualificação profissional para atendimento, além de adaptações em áreas de pedestres, equipamentos e edificações públicas.
"A partir desse passo inicial, vamos continuar apoiando as ações do MTur para oferecer a possibilidade de todos desfrutarem de nossos destinos. Se o Brasil é para todos, o turismo deve estar acessível aos que desejam conhecê-lo", diz Dino.
Para profissionais do ramo, com a atual situação o Brasil está perdendo oportunidades por não oferecer condições para o "Turismo Acessível", um mercado atraente principalmente para quem recebe os americanos, que gastam US$ 13,6 bilhões por ano com o turismo. Enquanto o País não se organiza, os brasileiros viajam para o exterior, onde as condições de acessibilidade são melhores.
Mais informações:
Comissão de Acessibilidade de Socorro
Telefone: (19)3855.9600
www.socorro.sp.gov.br
Falta estrutura de apoio aos deficientes no Ceará

Se comparado a outros países, o Brasil ainda dá os primeiros passos em direção à igualdade de acesso e aos investimentos voltados para a locomoção de deficientes e idosos. De acordo com profissionais da área de turismo, no Ceará a situação não é diferente. O visitante com qualquer tipo de deficiência, seja física, visual ou auditiva, fica desamparado não apenas por falta de acesso aos principais pontos turístico do Estado, como também pela falta de preparo dos profissionais do setor.
No centro de Fortaleza, por exemplo, é possível notar calçadas estreitas, acidentadas e sem guias rebaixadas. Além disto, os ambulantes invadem esses espaços de forma desordenada, mesmo sendo este um dos meios básicos para a pessoa com mobilidade reduzida se locomover, tanto turistas quanto a população local. Outra ponto de embate são os hotéis (obrigados a oferecer no mínimo 5% de quartos acessíveis). Poucos são aptos a receber hóspedes com necessidades especiais e a maioria não possui atrativos acessíveis.
Segundo o presidente do Sindicato Estadual dos Guias de Turismo do Ceará, Flávio Alvarenga, os profissionais sempre esbarram com essas dificuldades e o tema é tratado constantemente no Conselho Municipal de Turismo. "Mas, na prática, pouco se tem feito em relação à demanda que poderia existir neste segmento. Faltam calçadas com alturas regulares e equipamentos para o deficiente visual e auditivo na travessia das ruas" afirma.
Segundo Alvarenga, o Ceará esta muito atrasado, pois não acordou para as potencialidades do turismo acessível. "Perde-se em imagem e em número de visitantes, pois geralmente as pessoas com deficiência viajam acompanhadas", explica.
O transporte é outra preocupação, pois a maior parte dos veículos que trabalham no turismo não são adaptados para conduzir pessoas com deficiência. "A ajuda para estes visitantes é feita pelo guia de turismo, já que cabe a ele a responsabilidade pelo passageiro na excursão, quer seja deficiente ou não", garante Flávio Alvarenga.
Agências de receptivos também apontam as deficiências. Além de os hotéis, restaurantes e pontos turísticos não estarem preparados para receber portadores de deficiências, o maior problema ocorre no Porto do Mucuripe, no atendimento aos navios de cruzeiros. O piso é de paralelepípedos irregulares, impróprio para o tráfego de cadeirantes. Devido a isto, é comum que 15 a 20% da lotação dos navios, composta por pessoas com dificuldade de locomoção, fiquem impossibilitadas de desembarcar em Fortaleza.
Dificuldade diária

A para-atleta cearense, Maria Joselita da Silva, 37 anos, está ansiosa pelos jogos paraolímpicos de 2016, mas chama a atenção dos órgãos responsáveis pela transformação de Fortaleza para que todos tenham o direito de ir e vir. Na opinião dela, os poderes priorizam a beleza arquitetônica da cidade e esquecem a acessibilidade. "O profissional decora uma rua ou praça e acha que o arquiteto está sempre certo nas medidas, mas quem sabe na realidade é o deficiente quando vai passar pela rampa e vê que ela está muito inclinada ou estreita", ressalta.
As reclamações não param de surgir quando o assunto é acessibilidade em Fortaleza. Para os cadeirantes, na maioria das praças, quando existe rampa, é colocada em locais de difícil acesso. Já para o deficiente visual, a falta de folhetos em braile dificultam as visita a locais históricos.
Idealizador do projeto "Fortaleza a Pé", o educador e turismólogo Gerson Linhares conta que já fez passeios exclusivos para deficientes físicos, visuais e cadeirantes, além de pessoas especiais. "Uma vez um participante tropeçou na estrutura de uma antiga placa de identificação na Praça General Tibúrcio - dos leões. A sorte foi eu estava com um grupo de estudantes que o auxiliou para não cair. E por incrível que pareça, a estrutura de cimento ainda está no local", ressalta.
O turismólogo concorda que existem muitos impasses, desde a própria falta de educação da população, além da precária estrutura física das praças e calçadas. Para ele, no centro da cidade são visíveis estas dificuldades, pois alguns prédios históricos não tem rampas ou elevadores, o piso, na maioria das vezes é escorregadio, as bocas de lobo abertas, os tapumes das lojas invadem as calçadas, sem falar da poluição sonora. "Também sentimos falta de estacionamento para transporte turístico em muitas praças, dificultando o embarque e desembarque. Só com muito amor, determinação e profissionalismo continuamos com as nossa caminhadas culturais".
ADRIANA RODRIGUES
REPÓRTER
Copilado do Diário do Nordeste

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